quinta-feira, 26 de maio de 2016

Porquê?

Porquê?
Assustei-me. Estavas à porta da minha casa, eu cheguei e vi aquilo que nenhuma amiga gosta de ver, senti o aperto e olhei-te numa mistura de tristeza e de revolta.
Estavas a chorar. A chorar e a engolir o próprio choro. Não querias que ninguém o ouvisse. Não querias que ninguém percebesse e no entanto, os teus olhos marejados de lágrimas falavam por si.
Abracei-te com toda a força que tinha, abracei-te com a alma que trazia e ao mesmo tempo apetecia-me abanar-te, confrontar-te para que acordasses dessa tua ilusão de relação.
BASTA. BASTA. Apetecia-me tanto gritar. Mas eu tinha de me conter, tinha que respirar fundo e te segurar, mas fiquei a ferver. Não era a primeira vez, nem foi a ultima.
Perguntei-te simplesmente porquê?
Porquê?
És linda, superinteligente. Tens saúde, uma família unida e uns amigos que te adoram.  Tinhas acabado o curso de Direito.
Sempre admirei essa capacidade de defender os outros, de não te calares perante injustiças, de teres um poder de argumentação tão poderoso como o de defesa. De seres determinada, focada e cheia de postura.
Sempre admirei essa confiança, esse teu ar leve mas destronável, essa força anímica capaz de qualquer coisa, esses olhos penetrantes que conheciam as verdades mais obscuras.
Tu eras assim Maria, eras assim até ele entrar na tua vida.
Ele virou-te de pernas para o ar. Tu continuas a defender os outros, a seres esta amiga tão presente, essa filha tão consciente, mas perdeste aquilo que de mais preciso temos: a nossa defesa pessoal, a consciência do nosso valor e o nosso próprio amor.
Entraste num ciclo vicioso, numa espiral perigosa e aos poucos foste-te perdendo. Todos percebíamos isso à tua volta, menos tu.
Aguentaste, aguentaste silenciosa o que eu nem quero imaginar. Aguentaste que ele usasse o teu corpo e te roubasse e espezinhasse a alma.
Fizesse malabarismos com inverdades, com desculpas e chantagens.
Aguentaste as mentiras, aguentastes as promessas que nunca se cumpriram, aguentaste as criticas constantes e o ar pesado com que falava como se fosse dono do mundo.
Aguentaste o não amor, o saque à tua vida que ele aos poucos foi fazendo, as bipolaridades que aos poucos foi tendo.
Porquê Maria, porquê?
Sei que foi por amor, sei que foi por hábito à dor, mas por favor Maria? Tu só amas os outros se te amas a ti. Tu dependias dele, e amar não é depender. Procuravas nele o pedaço que te faltava e o que ele fez? Tomou-te por adquirida, apoderou-se dos teus sentimentos, e pior, dos teus valores.
BASTA, Maria. BASTA.
Acorda. Nós estamos aqui para te ajudar, mas não conseguimos caminhar por ti, decidir por ti, pensar por ti, agir por ti.
Porque te contentas com restos, com sabotagens, com egoísmos demonicos? Isso não é amor Maria.
Tu és responsável pelo que permites, és vitima e ladrão. Porque aceitas, porque te contentas, porque metes na responsabilidade dele a tua vida e o poder das tuas escolhas.
Não deixes que essa ilusão te roube o sabor bom do dia-a-dia, não deixes que te queimem mais a alma e nada sobre.
Chega de máscaras, chega de insistir, de ver se ele muda, se ele aceita, se ele quer, se lhe agrada, se se se se… CHEGA Maria, por favor.
Já sabemos mais que bem que ele não muda por ninguém, por isso Maria quem tem de mudar és tu.
Não é fácil, é claro que não é fácil. Qualquer vida que se preze e seja vivida pelo próprio/a exige coragem, exige libertação, exige responsabilidade.
Mas vale a pena Maria, vale a pena porque tens uma vida à tua espera, e mais vale doer tudo de uma vez do que ir doendo a vida toda. Tu mereces mais, Maria. Tu mereces muito mais do que todas as vezes que te vejo estares cada dia mais perdida, mais triste e mais longe de ti.
TU MERECES, MARIA. Diz isto para ti mesma. Mas vais ter de fazer por isso, vais ter de parar de te dar desculpas a ti mesma para não confrontares a dor e a verdade.
Vais ter que largar, vais ter de lutar, mas sabes por quem? Por ti.
E sabes porquê? Ninguém o faz no teu lugar.
Por favor, Maria.
 
 
 
 
 
 

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