sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Adiar estes momentos é crime


Há demasiado tempo que isto não acontecia. Não vos quero mentir, mas não me recordo de no ultimo ano ter algum momento parecido.
Ao constatar isto sinto-me ridícula. Não encontro outra palavra.
Andamos sempre a correr, não é? Andamos sempre a ocupar a agenda, a lutar, a querer mais, a despachar, a atender telefonemas, a responder a mails, a preparar isto e aquilo, a a fazer isto e aquilo...
Marionetas de um sistema, criado por nós.
Gabei-me de ter vendido todas as agendas, de ter dado saltos astronómicos em termos profissionais, de ter amado muito, de ter vivido muito, de ter feito muitas surpresas, muitas viagens e dado muito de mim, mas isto não fiz e se calhar isto é mesmo a coisa mais importante da minha vida. E da tua também, mãe.
Lá fora a chuva cai, como se me abençoasse o que eu acabo de viver e ainda agora comecei a escrever.
Era uma sexta-feira como todas as outras, ambas tínhamos afazeres, coisas imensas para planear, um molho de papeis na secretária que aumenta a cada dia,  mas eu cheguei à sala, como se fosse instinto levada por anjos e disse:
-Mãe, vamos ver um filme.
Eram cinco da tarde.
Pensei sempre que ias dar uma desculpa, ou eu voltaria atrás naquilo que tinha acabado de dizer.
Mas não.
Sentámo-nos, eu escolhi um filme, começamos a ver. Começamos a meter telemóveis em silêncio, a virar o ecrã para baixo, e ambas a olhar para a televisão.
Depois trouxeram-me o meu Starbucks, agarrei-o com uma mão, olhei para ti e exclamei:
“Não há luxo maior que este! Não há nada mais importante que isto.”
Tu concordaste e sorriste.
Claro que não há, continuei a sentir-me ridícula, a sentir-me Auto defraudada e pensei que esta mania de nós invertermos prioridades, andarmos sempre a pensar no depois enquanto desperdiçamos o presente, que esta mania de achar que temos tempo para tudo e tudo se fará, um dia pode-nos sair cara demais.
Tu fazes 49 anos no domingo, e nenhuma de nós, nem ninguém sabe o que a vida nos guarda. Adiar estes momentos é crime, é roubar tesouros ao tempo, é enganá-lo, é furtá-lo com a alma…
Nita






P.s. Aproveitem a chuva para partilharem bons momentos com aqueles que gostam no conforto do lar e sintam a gratidão que é estar com eles e ter um tecto.
 

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