sexta-feira, 29 de maio de 2015

Porque amor que é amor, não duvida, não entra e sai quando quer e lhe apetece.

Nunca percebi essas tuas idas e vindas de rompante. Não percebi nunca o que ganhavas com isto, o que era suposto perceber ou aprender.

Vinhas sempre num registo calmo, apaixonado a "pisar-terreno", cheio de certezas que era aqui o teu lugar. E eu deixava-te entrar, meio incrédula, meio a duvidar.
Ouvi demasiadas vezes "agora é diferente". E percebi que quem repete muitas vezes essa frase é porque guarda a incerteza e embrulha-a em mistério. Mas ela continua a existir.

E depois, depois tornavas-te outra pessoa, cheia de indiferença, cheia de perplexidades e hesitações. Era o teu outro lado a falar. A tua obscuridade. A tua parte mais sombria que poucos acreditavam, menos ainda conheciam. Ficavas altivo, arrogante e achavas-te o dono da razão.
Sem te dares conta (ou talvez até desses) agilizavas as coisas de um modo tão egoista, que muitas vezes dei por mim a perdoar-te por simplesmente seres assim. Quem "è assim" já tem a sua dose envenenada de viver.

Trocavas as poesias por gritos, as melodias por portas a fechar constantemente. Trocavas o amor por uma espécie de veneno. Baralhavas isto tudo de tal maneira, que o Norte ficou o Sul, e o Sul virou o Norte.
E eu perdoava-te. Porque te amava, meio em segredo, meio em medo. (Que modo horrível de amar.)

Fazias-me sentir viva e era isso que a que eu me agarrava sempre que tinha duvidas. Aguentei aquilo que diria às minhas melhores amigas para jamais tolerarem, aguentei porque o amor sem peso nem medida pode ser perigoso, pode virar jogo e pode calhar-te uma espiral labiríntica que te faz zonzear os sonhos e a tua existência.
Mas depois, chega um dia, um dia lindo, que olhas para ti mesma, que sorris, que recebes um empurrão dos bons, dos teus amigos, de prémios pela tua carreira e o Sol volta a brilhar e tu dizes simplesmente: BASTA.

Já não é o outro que importa, não lhe desejas mal nenhum, precisas é de resgatar a tua paz e sentires-te viva de um modo saudável e não doentio, de um modo positivo e não masoquista.
E quando esse dia chega descobres novas forças em ti, sentes o formigueiro na barriga que todos os fins encerram mas percebes que não há volta a dar, não há olhar para trás, não há "tanto faz".

Porque amor que é amor, não duvida, não entra e sai quando quer e lhe apetece. Isso é egoísmo.

Nita Domingos

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