Na ultima semana o inesperado
aconteceu. De um momento para o outro a cultura portuguesa ficou mais pobre, de
relance, de súbito, sem ninguém esperar. E ontem foi o que foi. Que murro no
estômago, que aperto no coração, que angustia, que aflição…
Eram vidas com tanto por
viver, eram pessoas sem culpa, foram vidas ceifadas, famílias destroçadas, o
azar de estar no sitio errado a hora errada.
Cresci com exemplos de que a
sorte dava muito trabalho, que a sorte se constrói, que a sorte é um prémio do
esforço… Cresci com exemplos de que o azar existe para quem não luta, para isto
e para aquilo.
UMA MERDA.
Desculpem-me os palavrões. Desculpem-me a linguagem.
Mas o azar existe. E a sorte também. Existiu ontem. Já não basta lutar por mil coisas,
trabalhar muito, alimentar-nos bem, fazermos exercício, termos boas rotinas,
boas relações… É preciso mais, é preciso sorte que não depende de nós.
Somos todos tão
insignificantes, viramos pó do nada, viramos recordações. Um dia alguém se
lembra de largar uma bomba e pronto acabou a nossa estadia aqui.
Que desespero isto me causa.
Que angustia não termos controlo sobre isto.
A verdade, é que nenhum de
nós, sabe muito bem lidar com isto, pois as teorias são muito fáceis, mas
quando nos toca de perto, na pele ou na família sabemos que não é assim tão
linear, tão teórico, tão simples como lamentar, içar uma bandeira ou escrever.
Cada vez mais o inesperado
acontece, em todo o lado, em todo o mundo e nós sabemos mas nem pensamos muito
nisso. Só quando há alguma calamidade é que nos recordamos: estamos de
passagem.
E é por isso que é URGENTE
viver no presente e um dia de cada vez, as nossas certezas são poucas e cada
vez menos, as nossas vidas mudam a cada instante, o nosso mundo parece correr a
um ritmo gritante.
É urgente amarmos mais e
melhor os nossos, colocarmo-nos no lugar deles, não ficarmos com nada por dizer
nem nada atravessado. Perdoarmos, relativizarmos e sermos mais tolerantes. Mais
simples a pensar, mais resistentes a sentir, mais inteligentes a viver.
Se chegarmos cinco minutos
mais atrasados, chegamos. Agora não podemos é atrasar isto de viver um
bocadinho melhor, ser um bocadinho mais feliz, porque é nesse atraso que a vida
pode dar uma machadada e acaba tudo ali.
E depois? E depois não sabemos.
Nita
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