Não sei se estarei cá amanhã,
as pessoas continuam a achar que somos eternos.
Eu também tantas vezes.
Mas a verdade é que a coisa mais certa que temos na vida,
é que um dia deixamos de estar cá.
Nós e os que amamos.
Nós e a nossa vida.
Nós e o nosso mundo como o conhecemos.
Quando me dizem "tens tempo!" sinto um aperto
na barriga,
sinto-me defraudada e enganada.
Porque eu não sei se terei tempo, não sei se irei sempre
a tempo.
Sei que hoje estamos aqui,
amanhã não faço ideia.
É por isso que sempre que possível quero ver aqueles que
gosto,
soube desde cedo o que era a saudade,
os meus pais partiram para outro continente a partir dos
meus 13 anos.
Os meus melhores amigos, todos eles, tiveram períodos de
ausência.
Eu soube o que era não poder abraçá-los in loco, ou
correr para os acudir.
A saudade é algo duro, é um sentimento que nos muda e nos
faz viver de outra maneira.
Há a saudade do doce reencontro, e há o monstro da saudade
daqueles que a vida nos leva.
Essa é eterna, essa divide-nos, marca-nos, esvazia-nos e
ao mesmo tempo deve encher-nos de vontade e de amor por aqueles que cá estão
connosco e pela ansia de partilharmos bons momentos com os mesmos.
Eles não estarão cá sempre.
É por isso que sou tão intensa que às vezes custa
aguentar-me, mas não tenho feitio para desculpas, para quem vive delas e para
as aceitar quando as pessoas se amam mesmo e podem estar perto, e podem-se ver.
Um dia mais tarde iriam dar tudo para fazerem um esforço maior para se verem,
para deixarem para lá o comodismo e partilharem conversas, abraços e sorrisos.
Só que nesse dia pode ser tarde demais.
Isso deixa-me em pânico e com medo, e
desse medo eu faço algo mais inteligente: acção.
Não consigo dormir chateada com os meus,
Raramente os trato pelo nome, ao invés disso, coloco amor
em palavras queridas e amorosas.
O nome deles é para ser chamado na escola, no trabalho e
no médico. Eu trato-os à minha maneira e com amor.
Fico doente quando discutimos.
Fico sem chão,
mando a razão que às vezes possa ter, dar uma volta, que
eu não preciso da razão pós discussão. Preciso de paz e de amor e harmonia e
alegria e isso só consigo sem maus ambientes, sem coisas entaladas, sem más
disposições.
É por isso que já fui e vim no mesmo dia a países
diferentes, para desfrutar apenas de umas horas juntos dos que adoro. Não
interessa o que dura, interessa a intensidade e a profundidade desses momentos.
Alimento-me disso, dessa energia e adrenalina em que me vicio nos reecontros.
E quando me dizem "tens tempo de os ir visitar, não
precisas de andar a correr", e eu volto a pensar e bradar, "uma merda
é o que tenho tempo." O tempo é que me tem a mim e o melhor que eu consigo
fazê-lo é usá-lo a meu favor.
Não sei trabalhar com total formalismo e profissionalismo
frio se de outro lado estiver alguém que eu gosto, detesto parecer uma máquina.
Não sei separar a identidade e quando hoje num e-mail profissional escrevi
"Bom dia alegria", e fui criticada, tenho pena mas não há nada a
fazer. Se trabalhasse para outrem tinha que mudar, agora se são assuntos meus,
trabalhos meus, lamento mas a minha marca pessoal vai lá estar, o meu tempo vai
ser usado para me expressar a favor, com alegria e convicção também aqui.
E sim também critico e exijo muito, mas tento que seja
sempre de um modo positivo e construtivo. Quando me dizem que adoram trabalhar
comigo, e nesta semana já são cinco as pessoas que o dizem, eu sinto que não é
inglório nem despropositado eu seguir este modo positivo e construtivo de me
relacionar.
Porque o meu tempo é o meu maior luxo, todos os segundos
estão a contar, todos os segundos têm energia, todas as palavras, acções têm
força e tudo isso é o a bagagem que a minha alma levará consigo e eu quero que
seja mesmo bonita, inspiradora e maravilhosa, porque a vida é um dom frágil e
longe de mim desperdiçar o meu!
Vossa,
Nita
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