Coisas mal acabadas, afinal nunca
acabam.
Connosco é assim durante anos,
nunca nenhum teve a convicção de pontuar com ponto final. Virar definitivamente
a página ou melhor ainda trocar de livro.
A verdade é que estamos tão
marcados um no outro, que nunca largámos tudo o que nos unia, não sei se por
apego se por amor. Se por medo ou por dor.
Às vezes, já para o fim,
alimentávamo-nos de pequenas migalhas e achávamos que aquilo valia a pena,
tentávamos encontrar sementes e voltávamos a semear esperança em nós. Mas nas
nossas migalhas, poucas sementes haviam.
O amor não germinava mais forte, já
nem crescia mais, e mais uma vez, não conseguíamos cortar a raiz.
Seguíamos meio zonzos por ai, meio
anestesiados, cruzámos novos mundos e vimos novas pessoas, tentamos tocar mais
fundo e tapar feridas com novos amores. Não resultou. Que erro crasso o nosso.
Tem de ser fazer o luto das coisas e nós nunca quisemos isso. Voltávamos ao
iô-iô, voltávamos à esperança meio condenada, meio doentia, voltávamos a cair,
voltávamos a adoecer, voltávamos a pôr reticências e a sair por aí, um sem o
outro.
Os nossos corações estavam
dormentes, os nossos corpos ainda desnorteados, as nossas mãos ainda a
procurarem serem entrelaçadas, à noite ainda a saudade, e a nossa consciência
vagabunda, a procurar essa tal esperança doentia, não queríamos acabar de vez,
sofrer de vez. E quando é assim, para poupar a gente, a mente, mente.
Diz que está tudo bem com essas
pontas por resolver, com esse iô-iô cansado, são mecanismos de defesa, são
máscaras que colocamos, são cobardias a que nos cobramos por medo de sofrer.
Mas só quando sofrermos tudo de uma vez, quando virmos que realmente dói, mas
não dá mais, é que ambos conseguiremos paz para atravessar esta barreira, para
deixar cair este véu costurado pelo apego e pelo medo e já sem renda de amor.
E quando esse dia chegar, a
calmaria voltará ao nosso coração, o perdão habitará a nossa alma, sem
ressentimentos, pois tudo o que vivemos foi real, tudo o que partilhámos foi
especial, não renego nada disso, mas tudo tem o fim, e o nosso é iminente e
anda por aí!
Nita Domingos
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