quarta-feira, 29 de julho de 2015


Coisas mal acabadas, afinal nunca acabam.
Connosco é assim durante anos, nunca nenhum teve a convicção de pontuar com ponto final. Virar definitivamente a página ou melhor ainda trocar de livro.

A verdade é que estamos tão marcados um no outro, que nunca largámos tudo o que nos unia, não sei se por apego se por amor. Se por medo ou por dor.
Às vezes, já para o fim, alimentávamo-nos de pequenas migalhas e achávamos que aquilo valia a pena, tentávamos encontrar sementes e voltávamos a semear esperança em nós. Mas nas nossas migalhas, poucas sementes haviam.

O amor não germinava mais forte, já nem crescia mais, e mais uma vez, não conseguíamos cortar a raiz.
Seguíamos meio zonzos por ai, meio anestesiados, cruzámos novos mundos e vimos novas pessoas, tentamos tocar mais fundo e tapar feridas com novos amores. Não resultou. Que erro crasso o nosso. Tem de ser fazer o luto das coisas e nós nunca quisemos isso. Voltávamos ao iô-iô, voltávamos à esperança meio condenada, meio doentia, voltávamos a cair, voltávamos a adoecer, voltávamos a pôr reticências e a sair por aí, um sem o outro.

Os nossos corações estavam dormentes, os nossos corpos ainda desnorteados, as nossas mãos ainda a procurarem serem entrelaçadas, à noite ainda a saudade, e a nossa consciência vagabunda, a procurar essa tal esperança doentia, não queríamos acabar de vez, sofrer de vez. E quando é assim, para poupar a gente, a mente, mente.
Diz que está tudo bem com essas pontas por resolver, com esse iô-iô cansado, são mecanismos de defesa, são máscaras que colocamos, são cobardias a que nos cobramos por medo de sofrer. Mas só quando sofrermos tudo de uma vez, quando virmos que realmente dói, mas não dá mais, é que ambos conseguiremos paz para atravessar esta barreira, para deixar cair este véu costurado pelo apego e pelo medo e já sem renda de amor.

E quando esse dia chegar, a calmaria voltará ao nosso coração, o perdão habitará a nossa alma, sem ressentimentos, pois tudo o que vivemos foi real, tudo o que partilhámos foi especial, não renego nada disso, mas tudo tem o fim, e o nosso é iminente e anda por aí!


Nita Domingos
 
 

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