domingo, 19 de julho de 2015

Achava que podia desprezá-la 

Penso que nunca lhe dei realmente o valor que tinha. Penso que nunca pensei seriamente em perdê-la. Como se perdia alguém que gostava tanto de mim? Que se preocupava comigo e com todos os detalhes, e eu burro, via nisso pressão. Mal eu sabia que era amor para ser cuidado. 

Achava por isso que não fazia mal as minhas sucessivas saídas com amigos, inverter as prioridades e não ligar muito ao que ela chata dizia. 

Achava que podia ser mais frio e descarregar nela algumas frustrações do trabalho e família,  que ela iria sempre aguentar.

Achava que podia esquecer de diariamente expressar com gestos genuínos o quanto a amava, mas estava mais preocupado com o resto dos problemas em redor. 

Achava que ela era de ferro, que aquela segurança e sorriso eram intactos.

Achava que não precisava mostrar o amor, bastava verbalizá-lo e deitar-me com ela debaixo dos lençóis e tocar-lhe apressadamente. 

E achei mal. Muito mal. Tudo isto e muito mais coisas que nós homens temos a mania de descuidar, elevando o ego e dando ouvidos ao meio social.
Achava e achei mal e quem acha mal perde sempre ou não chega realmente a encontrar. 

Hoje sei que foi por isso que a perdi há um ano. Que a esgotei. Que a cansei e que a mudei no modo como olha para mim. 

Por isso há duas semanas, sentado no bar da praia ao fim do dia, via-a a desfilar e a subir as escadas tão dona de si, a sorrir leve, e despreocupada, a dizer "não" com segurança, a caminhar com coragem na minha direcção e na dos meus amigos. Chegou ali a sorrir, deu-nos um beijo rápido a todos, perguntou-nos se estávamos bem e felizes, respondemos (responder às vezes não é sentir) que sim. Ela sorriu genuína, pegou na mala e saiu depressa meia a dançar, meia a caminhar, e eu fiquei ali parado a pensar que fui um fraco por "achar" de mais, que a mania de ter razão e não cuidar podia dar bons resultados, que não era preciso fazer muito, afinal ela era tão boa pessoa. 

E continua a sê-lo e agora sei que melhor pessoa ainda para ela, que do caos que a deixei, virou uma estrela que destila luz por onde passa. 

Perdia-a porque achava que podia desprezá-la. Perdia-a como tenho perdido tantas coisas na minha vida por achar que lutar ou não é igual, perdia-a porque a dei como adquirida. 

Nita


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